domingo, 13 de setembro de 2009

A Lorga de Dine

Enfim, o relatório de actividade na Lorga de Dine.  Para breve (espera-se) o Relatório de Actividade em Cova da Lua e os Contos da Fabulosa Tita.
(ver o vídeo com o som alto, a música April do grupo 27 assenta muito bem)



A equipe a preparar o relatório no Parque Biológico de Vinhais:



Relatório de actividade



Lorga de Dine


Vinhais, 2009-04-18

 
1 Objectivos


Esta actividade tinha por objectivo proceder à avaliação do potencial espeleológico e de progressão na Lorga de Dine. (nota: “lorga” é a designação local para “gruta”)


2 Posicionamento
A Lorga de Dine situa-se praticamente por debaixo da igreja de Dine, a entrada está situada um pouco abaixo da igreja a Poente (alinhamento da porta principal da Igreja), junto aos fornos da cal.


Coordenadas aproximadas: 41,9106 N; 6,9292 O (WGS84)


3 Participantes
Celso Santos (ARCM)
Paulo Campos (ARCM)
Susana Pinto (ARCM)

4 Descrição da actividade

4.1 – Lorga de Dine

A actividade teve início pelas 11h, tendo sido iniciada a prospecção em Dine junto à Lorga (gruta). Foi feita uma ligeira prospecção e reconhecimento ao terreno, tendo sido identificada como “curadora”, da Lorga e do Centro de Interpretação da Lorga, a dona Judite e que esta habita a casa mais próxima da gruta. Sendo a sua habitação contigua à igreja e ao Centro Interpretativo, onde está exposto o espólio recolhido durante as prospecções arqueológicas à Lorga de Dine.
A D. Judite foi extremamente calorosa na recepção que nos fez, tendo manifestado toda a disponibilidade para nos facilitar o acesso quer ao Centro quer à gruta.
Durante a apresentação dos nossos objectivos da visita a D. Judite referenciou um episódio vivido com ela. De acordo com a nossa anfitriã foi encomendada por ela a realização de furo de água para abastecimento da sua casa e, nos três primeiros ensaios para a realização deste a broca da perfuradora caiu a cerca de 53m de profundidade tendo sido impossível a sua recuperação. Tal foi assumida quer pela D. Judite, quer pela empresa realizadora do furo, como resultando da existência de espaço amplos que impediam a recolha da broca. Assim, na quarta tentativa da realização do furo, a empresa teve o cuidado de não deixar passar a broca abaixo dos 53m de profundidade e o furo resultante foi de grande sucesso nunca faltando em água, até à data de hoje, mesmo quando bombeada por mais de 24h consecutivas. Acredita a D. Judite que as galerias da gruta se desenvolvem por debaixo da sua casa e daí a existência de ocos que justifiquem a perda das brocas.
As coordenadas de alguns furos são as seguintes:
• Primeiro furo: 41,9106° Norte e 6,9292°Oeste
• Furo em serviço: 41,9109° Norte e 6,9289°Oeste
Após identificação dos locais de realização dos furos fomos conduzidos ao centro interpretativo, onde nos foi possível tomar conhecimento das prospecções arqueológicas realizadas antes. De seguida prosseguimos, na companhia da “curadora”, para a entrada da gruta que está fechada por uma grade de ferro. Pelo caminho tivemos a oportunidade de apreciar a antiga pedreira, propriedade da família da D. Judite. De acordo com a proprietária, nesta pedreira existia um algar, com eventual origem na gruta, do qual subia nevoeiro intenso. Esta descrição induz a conclusão de que, de facto, se trataria de algar e de que o desenvolvimento vertical, do total do conjunto a ele associado, fosse significativo.
Na Lorga de Dine foi colocado um portão de ferro com fechadura, de cuja chave é guardiã a D. Judite. Este portão pretende impedir o acesso a pessoas de poucos escrúpulos que têm vindo a delapidar o espólio arqueológico da gruta.
Chegados à Lorga foi-nos franqueada a porta e tivemos a oportunidade de percorrer todo interior da gruta que é constituído por duas salas principais, a sala da entrada tem fortes vestígios de ocupação ancestral e tem sinais evidentes de prospecção arqueológica e de vandalismo. O estudo arqueológico revelou um espólio assinalável, do qual algum está exposto no Centro de Interpretação já referido. Tivemos a oportunidade de recolher à superfície, no material revolvido e cujos estratos de origem não são identificáveis, alguns fragmentos cerâmicos e ossos. Material este que foi deixado à guarda da D. Judite. Foram ainda encontradas algumas moedas recentes, numa área vandalizada, que também foram confiadas à Dona Judite e que, com devoção, as ofereceu à caixa de esmolas da igreja local.
A gruta desenvolve-se ao longo de uma falha entre estratos quase horizontais com uma pequena inclinação aproximadamente Norte-Sul. Verificamos que nos extremos Sul das salas existe continuação para Sudeste. Mas esta continuação está muito obstruída por grandes quantidades de sedimentos finos. O pó é muito abundante e penetrante. Todas as galerias são fósseis e são muito pobres em concreções.
Na sala maior, de entrada, ainda foi possível prosseguir, cerca de 2,5m, após desobstrução, numa galeria com orientação azimutal de 120º. Nesta galeria verificou-se que continuava, no entanto não parece que possa haver salas ou espaços de dimensão assinalável, pelo que não parece justificar trabalhos de desobstrução mais intensos.
No total foram tentadas progressões em 3 diferentes locais, em todos foi abortada por ficar demasiado estreito para progressão e sem sintomas de que o esforço de progressão pudesse levar a espaços de valor espeleológico justificativos de qualquer trabalho de desobstrução.
Após o abandono do espaço da gruta seguimos a encosta Sudeste, aproximadamente na direcção da galeria detectada no interior da sala principal, onde a D. Judite disse ter existido uma nascente e, de facto, no campo indicado e com uma orientação de Sudeste, existe uma zona de abatimento que, de acordo com a informação obtida, vai abatendo e o lavrador vai tapando. Este abatimento indicia que, neste local, continua a existir circulação subterrânea de água.
A Oeste, no alinhamento da entrada da gruta e numa cota, sensivelmente abaixo uns 50m da casa da D. Judite, existe uma nascente que os locais associam tradicionalmente à gruta e que acreditam estar ligada. É possível que o actual nível freático seja o correspondente à nascente. Tanto mais que a cota da água nos furos que abastecem a casa da D. Judite, é a mesma o que leva a acreditar que o potencial de desnível na gruta poderá ser de cerca de 40m, até à zona activa.


4.2 – Gruta de Cova da Lua

Contou a D. Judite que, em Dine, passa de geração em geração a história de que um cão terá entrado na Lorga e saiu alguns dias depois na gruta existente na zona dos fornos da cal de Cova da Lua. O cão terá aparecido com o pelo rapado como se tivesse andado a roçar em buracos estreitos para passar.
A visita a Cova da Lua está descrita noutro relatório.

5 Encerramento da actividade
O termo da exploração e saída teve lugar cerca das 17h.
Foram realizados o presente relatório, não foi realizada topografia da Lorga de Dine porque já existe e não foi considerado que tivesse havido progressão relevante


6 Anexo
Vídeo com montagem das imagens disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=NoRnx-ivqIo

1 comentário:

  1. Coincidência! Estive lá este fim de semana com a família (Dine, Cova da Lua e Vilarinho) e constatei exactamente o mesmo. Parabéns pelo relatório. Está preciso e muito bem escrito. Como não tinha presente este excelente trabalho, combinei tudo com a Dona Judite de forma a brevemente irmos lá sondar aquilo com mais cuidado. Já estava a pensar aliciar toda a gente a irmos lá. Mas como já o fizeram, já está! Ainda há mais um local que tem uma passagem enorme calcária e natural que supostamente atravessa uma elevação. Mas não consegui saber a sua localização, já que ao que parece ela se encontra em estudo e sem localização tornada pública. Parabéns!

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